(image by Kenia Cris)
Minha mãe esperou anos
para ver as enchentes
abrirem ruas
e o céu arder em fogo.
Encheu as prateleiras da garagem
com creme de cogumelos
ervilhas em lata
e cebolas fritas -
munição suficiente para fazer
cassarola para sempre.
No compartimento de armas
ela mantinha cópias de todos os
seus albums do John Lennon
à espera da noite longa.
Meu pai não se preocupava
nem com o aguaceiro nem com o fogo.
Tomava sua cerveja regularmente
assistia o futebol religiosamente
praguejava ocasionalmente
e fazia planos simples
para o futuro improvável:
consertar a calha
trocar a lanterna traseira da pick-up
cortar a grama.
À mesa na hora do jantar, ninguém falava
das coisas que sabíamos acontecer em algum lugar.
A carniça que vinha com o vento quente
e batia nas janelas fechadas insistente.
A escuridão ao meio-dia que só aumentava.
A poeira que subia e
pintava o quintal de amarelo infinito.
Aprendemos silêncio e resiliência
fazendo as coisas de casa.
Aprendemos as linhas
em nossas mãos e rostos
elas revelaram as estradas
que percorremos
na alegria e na tristeza.
Eu me lembro, sorrimos.
O minuto passado
e o minuto à frente,
num piscar de olhos
ambos se foram -
o que nesse mundo
nos é permitido abraçar
além dos próprios joelhos?
Momma spent years waiting for the floods
which would split the roads open
and the fiery sky that would burn.
She lined the garage shelves
with cream of mushroom soup
canned green beans
and fried onions
enough munitions to make
green bean casserole forever.
In the gun safe, she kept duplicates
of all her John Lennon albums,
for when that final day turned to night.
Dad couldn’t care less about
the floods or the fire.
He had a beer regularly
watched soccer religiously
cursed occasionally
and made plans for the unlikely future:
to mend the rain gutter
to replace the Toyota’s blown tail light
to mown the lawn.
At the dinner table, no one spoke
of the things we knew were happening:
the foulness of the hot wind which clawed
and banged at the shuttered windows without end,
the dimness of noon which grew only dimmer,
and the smoke that rose from the ground,
tarring the backyard an endless yellow.
We learned silence and resilience
performing our chores.
We learned the lines in our palms
and on one another's faces
they revealed roads we walked
in good times and in bad.
I remember, we smiled.
The minute past,
the minute ahead,
in the blink of eyes
They are gone -
what in the world
is ours to keep?
(Nota: Esse poema foi escrito à quatro mãos! As outras duas pertencem à querida Isadora Gruye, que escreve o blog The Nice Cage. O poema encerra as comemorações do primeiro aniversário do grupo de poetas Imaginary Garden With Real Toads. O tema que escolhemos foi 'Ame O Seu Fim Do Mundo', um olhar positivo sobre o dia do Juízo Final. As cópias impressas foram afixadas em lugares onde as pessoas não esperassem encontrar poesia aqui na minha cidade e na cidade dela no estado americano de Minnesota.
Note: This is a collaborative poem written by Isadora Gruye (The Nice Cage) and myself to close the celebrations of the first anniversary of the Imaginary Garden With Real Toads poetry community. The theme we picked was 'Love Your Doomsday', a positive look into the the end of the world. Printed copies of the poem have been left in places where people wouldn't expect to find poetry my city and hers, which is in Minnesota.)
Abraçar o que nos pertence
ReplyDeleteapenas por um breve tempo
Abraço!
Marlene
I loved to see all your pics on Flickr, Kenia. Your collaboration was ambitious and brilliantly-conceived - just so exciting to see poets at work on a strong message with a determination to get it out there and read.
ReplyDeleteKênia, seu poema me emocionou profundamente. Tive a sensação de estar lá...na medida em que ia avançando na leitura. Beijocas, Adriana
ReplyDeleteESPLÊNDIDO!
ReplyDeleteencantou com o poema, que está acima de qualquer comentário, e encantou mais ainda com a idéia.
Quem me dera encontrar um pedaço de papel com letras borradas ao invés de pedaços de um mundo aos pedaços...
Podemos abraçar sonhos e memórias.
ReplyDeleteWillie Nelson = John Lennon ? ;-)
ReplyDeleteI like the way you both managed this task ... hoping it will always stay fiction.
you make doomsday fun! fingers crossed for our futures, and neat idea
ReplyDeleteYou both did a FANTASTIC job on this. It reads so realistically, it's scary. I love the alternating outlooks on life, the mother and the father, with the child watching it all. Wonderful writing!
ReplyDeleteLindo poema! A forma como você escreve parece nos transpor para o momento.
ReplyDeleteAdorei descobrir seu blog. =)
I love this poem! Beautiful! I'm thinking I have to do an apocalyptic Poetry Planet...
ReplyDeleteP.S. It was a very lovely idea to set poems free into the wild : ) *internal sigh*
ReplyDelete