Tuesday, August 30, 2011

#499


(image by Julie de Waroquier)

Eles têm tudo escrito
e sabem exatamente
como vai acontecer.

Publicaram trabalhos científicos
sobre vidas poéticas
mortes trágicas
verdades incompreensíveis.

Eles dizem que vou morrer
por minhas próprias mãos.

Porque sou uma escritora.
Por causa da minha escolha de pronomes.
Por causa de mecanismos
confusos
na minha cabeça.

Eles dizem que vou morrer
como Sylvia,
como Anne,
como Virgínia,
Como Alejandra.

Mas eu vou morrer
como a mulher que sou.


They have it all determined
They know exactly how it will happen.
They’ve published scientific papers on poetical lives,
tragic deaths,
incomprehensible truths.

They say I’ll die by my own hands.

Because I’m a woman writer
Because of my pronoun choice
Because of something inside my head
they cannot tell or
understand.

They say I’ll die
like Sylvia,
like Anne,
like Virginia,
like Alejandra.

But I’ll die like myself.






(posted to dVerse)

Sunday, August 28, 2011

#498


(image by Codri)

Caminho no escuro
entre as multidões de fantasmas
- eles não mais me incomodam.
Porque desconfio,
vim até aqui
sozinha.
Porque minhas mãos
não encontram paredes,
esses joelhos escalavrados.

I walk in the dark among
the crowds of ghosts
- they no longer bother me.

because I don't always trust
the particular touch,
I allowed no one to lead me here.

because I grope for walls
and can't find them,
I have these bruised knees.

Friday, August 12, 2011

#497

(image by machitamami)


Dobro o tempo em
mil Tsurus

e os observo ganhar vida,
voar para longe

carregando meu desejo
em suas asas.

I fold time into
one thousand Tsurus

and watch them
as they gain life
flying away
in the distance

carrying my wish
on their wings.


Sunday, August 7, 2011

#496


(image on StumbleUpon)

Quando é outono e eu

saio para uma caminhada longa
espero que você me encontre.

Céu de baunilha
o vento brinca com as folhas das árvores
e olho da minha imagem refletida
na água para a estrada à frente.

Eu sei que você caminha devagar,
mas pela primeira vez em anos
meu coração está tranquilo.


When it's autumn and I
go for long walks alone
I don't expect anyone
to find me but you.

Orange sky
the wind blows leaves off trees
I look from my reflected image
in the water to the path before me

I know
you walk slowly
but for the first time in years
my heart is calm.

Tuesday, August 2, 2011

#495


(image by J.)

O milagre do amor
é aquele das coisas
cotidianas

das coisas que respiram
como o virar de páginas
e o abrir de janelas

de olhar o céu e
reorganizar as estrelas
para que elas tenham

os nossos traços.


the miracle of love
is that of
everyday things

of breathing
turned pages
and open windows

and rearranging stars
in the sky
so they carry our lines.