Querido homem do passado,
Eu sinto muito a sua falta, todos os dias, mas às vezes um pouco mais. Quando nos conhecemos, você veio andando em minha direção no escuro e então transformou tudo em luz. Quando você foi embora a luz se apagou, e junto com ela a lua e as estrelas - a noite nunca foi tão assustadora. Sinto falta de longas conversas ao telefone, de abraços eternos em que ninguém se solta, de mãos dadas, de carinho despretensioso, dos seus olhos, da sua risada, de você deitado no meu colo olhando o céu e falando de livros, arte, da vida.
Nossas vidas mudaram muito no último ano, tivemos que aprender a lidar com ausências e presenças, com o inverno da alma, e as consequências das escolhas que fizemos. Crescemos separados. Abrimos as portas para outras pessoas, falamos cada vez menos um com o outro, um do outro, embora nossas lembranças e pensamentos não nos abandonem. Unidos por girassóis, botões, elefantes, filmes, teatro, livros, céus, nuvens, estrelas, risadas; separados por um oceano, um fuso horário, o cotidiano frio e impessoal. Eu tenho medo de nunca mais sermos o que éramos. Tenho medo de nos tornarmos estórias que contaremos aos nossos filhos e netos, apenas estórias com finais inevitavelmente estranhos e incongruentes, nada mais.
Beijo carinhoso.
Sempre.