Monday, December 24, 2012

#558


(image by John Berd)

este mundo,
como o temos agora,
você não poderá trazê-lo de volta
e um dia sentirá falta dele.

quando não mais houver 
alguém do outro lado
sonhando você, apesar 
de tanta insônia.

o que há agora 
não espere, porque 
o que há não se repetirá
além da tua língua.

quando indagado sobre
uma lembrança boa,
talvez tenha uma história diferente
pra contar 

ou talvez tenha esta.



This world as we have it
now, you won't be able to
bring it back and
you'll miss it bad someday

when there is no one else
on the other end
dreaming you
in spite of insomnia.

what you have now
don't wait for that
because you won't have it again
except on your tongue

when asked
about a good memory
maybe you'll have a different story
or maybe you'll have this one.


Tuesday, October 23, 2012

#557


Não escreva na pele
promessas que não pode cumprir.

Viver é ir 
e deixar partir 
quando chega a hora.

Don't use your skin for
promises you can't keep.

To live is to go
and to let go
when the time comes
to do so.

Monday, October 15, 2012

#556

(Image by Paula)

Tentamos.
Permitimo-nos o erro
pois humanos - 

carregamos
na palma da mão
um destino possível.

Continuo caindo.
A primavera me amolece os ossos,
os caminhos ficam compridos.

Contar os poentes 
me dá algum alívio,
no verão os arranhões estarão curados.

We try.
We accept mistakes
given we're human

we carry
a likely fate
on our palms.

I keep falling.
Spring softens my bones,
going places feels exhausting.

Counting sunsets brings me some relief.
When summer comes, these bruises
will have disappeared.

Monday, October 8, 2012

#555


(image by Ross D. Callahan)

Eventualmente
nossas escolhas vão nos separar
- você diz.

"Você precisa da promessa segura da margem
eu preciso do fluxo do rio."

Eventualmente
nossas escolhas vão nos aproximar
- eu digo.

"Esse coração é a tua casa, 
você voltará ao início."

eventually
our choices will bring us apart
- you say.

"you need the safe promise of the banks
I need the flow of the river."

eventually
our choices will bring us together
- I say.

"You'll go back to the start,
this heart is your  home."

Sunday, September 9, 2012

#554


(image by Sara Moritz)

Foi um dia para 
aprender a amar o teto
que me priva de 
desejos em estrelas,
ontem.

Escorre pelas paredes
num silêncio branco,
machuca os meus olhos,
incomoda a minha vontade.

Meus sonhos todos escritos 
na pintura gasta.
Minhas horas lentamente
engolidas pelas rachaduras.

It was a day to spend
trying to love the ceiling
which stops me from
shapes in clouds and
wishes in stars,
yesterday.

It hurts my eyes and
disturbs my moods
running in white silence
down the walls.

My dreams all written
in the paint stripping.
My hours slowly
swallowed by the cracks.

Friday, September 7, 2012

#553

(image by Daiana)

Da noite passada
a palavra não dita -
esteja lá por quem importa,

sem pensar no peso de ser.


Não misture sentimentos
confusos e vinho tinto,
passe o resto da vida comigo.

Tem mesmo só um mês?

Last night,
the words left unsaid -
be there if it matters.

Try not to think
about  the weight of
being.

Do not mix
confusing feelings
and red wine.

I want you to stay
til the end of our lives:
Has it really been just a month?


Friday, August 31, 2012

#552

(image by Felicia Simion)


Quero acreditar que haverá tempo
entre o agora e a hora de ir embora
pra decorar o seu cheiro e construir memórias
que gostaremos de guardar.

Mas preciso de uma coragem diferente
da pouca coragem que tenho, 
para escrever o teu nome num sonho
que possa realizar.

I want to believe there will be time
between now and the time to leave,
to memorize your smell
and build memories we might like to keep.

But I need a different kind of courage
from the little one I have,
to write your name in a dream
I can make come true.

Tuesday, July 31, 2012

O fim | The end


(image by Kenia Cris)

Minha mãe esperou anos 
para ver as enchentes
abrirem ruas 
e o céu arder em fogo. 
Encheu as prateleiras da garagem 
com creme de cogumelos
ervilhas em lata
e cebolas fritas -
munição suficiente para fazer 
cassarola para sempre. 
No compartimento de armas
ela mantinha cópias de todos os
seus albums do John Lennon
à espera da noite longa. 

Meu pai não se preocupava 
nem com o aguaceiro nem com o fogo.
Tomava sua cerveja regularmente 
assistia o futebol religiosamente
praguejava ocasionalmente 
e fazia planos simples 
para o futuro improvável:
consertar a calha
trocar a lanterna traseira da pick-up
cortar a grama. 

À mesa na hora do jantar, ninguém falava
das coisas que sabíamos acontecer em algum lugar.
A carniça que vinha com o vento quente 
e batia nas janelas fechadas insistente. 
A escuridão ao meio-dia que só aumentava. 
A poeira que subia e  
pintava o quintal de amarelo infinito. 

Aprendemos silêncio e resiliência
fazendo as coisas de casa.
Aprendemos as linhas 
em nossas mãos e rostos
elas revelaram as estradas 
que percorremos
na alegria e na tristeza. 
Eu me lembro, sorrimos. 
O minuto passado  
e o minuto à frente,
num piscar de olhos
ambos se foram  -
o que nesse mundo
nos é permitido abraçar
além dos  próprios joelhos?


Momma spent years waiting for the floods
which would split the roads open
and the fiery sky that would burn.
She lined the garage shelves
with cream of mushroom soup
canned green beans
and fried onions
enough munitions to make
green bean casserole forever.
In the gun safe, she kept duplicates
of all her John Lennon albums,
for when that final day turned to night.

Dad couldn’t care less about
the floods or the fire.
He  had a beer regularly
watched soccer religiously
cursed occasionally
and made plans for the unlikely future:
to mend the rain gutter
to replace the Toyota’s blown tail light
to mown the lawn.

At the dinner table, no one spoke
of the things we knew were happening:
the foulness of the hot wind which clawed
and banged at the shuttered windows without end,
the dimness of noon which grew only dimmer,
and the smoke that rose from the ground,
tarring the backyard an endless yellow.

We learned silence and resilience
performing our chores.
We learned the lines in our palms
and on one another's faces
they revealed roads we walked
in good times and in bad.
I remember, we smiled.
The minute past,
the minute ahead,
in the blink of eyes
They are gone -
what in the world
is ours to keep?


(Nota: Esse poema foi escrito à quatro mãos! As outras duas pertencem à querida Isadora Gruye, que escreve o blog The Nice Cage. O poema encerra as comemorações do primeiro aniversário do grupo de poetas  Imaginary Garden With Real Toads. O tema que escolhemos foi 'Ame O Seu Fim Do Mundo', um olhar positivo sobre o dia do Juízo Final. As cópias impressas foram afixadas em lugares onde as pessoas não esperassem encontrar poesia aqui na minha cidade e na cidade dela no estado americano de Minnesota. 

Note: This is a collaborative poem written by Isadora Gruye (The Nice Cage) and myself to close the celebrations of the first anniversary of the Imaginary Garden With Real Toads poetry community. The theme we picked was  'Love Your Doomsday', a positive look into the the end of the world. Printed copies of the poem have been left in places where people wouldn't expect to find poetry my city and hers, which is in Minnesota.)

Sunday, July 29, 2012

#551

(image by Alaisyn)

Foi em algum lugar
entre o primeiro raio de sol
invadindo o quarto
e a escovação 
numa manhã do último inverno.

Qualquer um facilmente
se sente incomodado.
O gosto de sódio,
a temperatura da água,
o desconforto matinal.

Ninguém pode fazer 
coisa alguma sobre a
estranha solidão
durante a escovação.

As coisas que você
diz ao espelho
nesses momentos.


It was somewhere
between the first sunray 
breaking into the bedroom
and brushing teeth
one morning last winter.

Anyone can easily get
uncomfortable. 
The taste of sodium, 
the water temperature,
slightly twinge the stomach.

No one can stop
brushing teeth
from being 
awkwardly
lonely.

The things you
tell the mirror then.

Friday, July 20, 2012

#550

(image by Debora)


Dos dias no calendário
onde se multiplicam as incertezas

distante a vida delicada
e as memórias que inventamos.

Devo ter entendido errado
a analogia entre a noite e os planetas:

o céu tão escuro,
meus olhos cansados.


These days in the calendar
when uncertainties spread

the delicate life and 
the memories we invented seem so far.

I must have gotten it all wrong,
the analogy between the night and the planets:

the sky so dark,
my eyes so tired.

Friday, July 6, 2012

#549


(image by Agnieszka Kryspin)

Nós não somos nada
como as histórias
que eu ouvi
ou as comédias românticas
no cinema.


Mas quando você vem
e sorri desse jeito
que espalha flores 
sobre a Terra,
eu entendo
do que elas falam.


We're nothing
like the fairy tales
I've heard or
the romantic
movies
I've watched.

Still,
when you're standing
 in front of me and
you smile that way
which causes flowers
to bloom,
I understand
what they are all about.

Tuesday, June 26, 2012

Galapagos

(image by Avalon620)


Vivi muitos tipos diferentes de solidão ao longo da vida: ser a única pessoa da minha família a falar uma língua estrangeira (na verdade, duas); ter odiado maquiagem por muitos anos, e ainda odiar a cor rosa, e saias e vestidos, e salto alto, e dressing codes e garotas cujo assunto circule em torno de produtos de beleza, tendências de moda e cabelo, entre outras futilidades; ter desfrutado de certos prazeres mais do que outras meninas, como sentar no chão, caminhar gado e brincar na lama; passar mais tempo entre livros do que entre pessoas; conseguir que as pessoas me amem exatamente como sou e ainda assim ser incapaz de fazê-las permanecerem em minha vida; ter medo de monstros debaixo da minha cama (sério, até hoje); chegar ao fim de um livro ou filme com um entendimento transcendental de mim mesma ou do mundo em que vivo; sentir muita pena dos cães abandonados (mais até do que dos moradores de rua muitas vezes), acreditar no amor e na bondade; chorar no chuveiro, na cama, no ônibus indo a qualquer lugar sem me preocupar com o que as pessoas podem pensar; gostar de música Indie, não chorar em filmes tristes, nunca ter assistido Titanic, questionar finais felizes. 

Eu sei que cada um de nós vem ao mundo sozinho. 

Mas me sinto muito desconectada. Sinto que não pertenço a nada. Mesmo cercada de pessoas que me amam e pelas quais sou imensamente grata. Me pergunto se há alguém que me conheça verdadeiramente. Provavelmente não. E eu não deixo muita gente se aproximar de mim, quero dizer, a ponto de tocar minha abstração, a essência do meu ser. Eu afasto as pessoas quando se aproximam demais. Tenho medo de me machucar, então eu as machuco primeiro, para evitar que elas o façam. Paro de procurá-las. Paro de falar com elas. Paro de pensar nelas. Quem ainda poderia me amar depois desse ciclo? 

Eu sou completamente responsável pela minha solidão. Não me incomoda, a maior parte do tempo. É a liberdade de que alguns falam. 

É só às vezes que penso se não deveria ter sido mais como as garotas comuns que eu conheço. Deveria ter 'sossegado o facho', ter me casado com um dos meus namoradinhos e ter tido os filhos que tanto quero. Então me pergunto se teria sido feliz. Duvido. Essa inconstância. Por isso eu não faço planos. Nunca. E não tento ver longe no futuro. Mas tenho na cabeça essa imagem de uma mulher que vi num documentário uma vez, sobre o número crescente de idosos na população da Itália. Era velhinha e fraca, de lencinho na cabeça, o rosto enrugado, cansado, chorava copiosamente enquanto contava sua história para o repórter. Contava a ele que era filha única e que não havia se casada nem gerado filhos. Contava do pesar de pensar que se aproximava dela a morte, e quando esta chegasse, sua família deixaria de existir. Todos estavam mortos, ela, o último membro vivo de uma linhagem, caminhando sobre a Terra. Chorava. Nunca me esqueci disso. Penso que agora talvez esteja morta. 


---- 

I have experienced many different kinds of loneliness throughout my life: Being the only person in my family who can speak a foreign language (actually two), being a girl who hated make up for years, and the color pink, and skirts and dresses, and high heels, and dressing codes, someone who still hates girls who can only get into conversations about skin care, hair trends, fashion fads and such silly stuff, enjoying small 'dirty' pleasures like, sitting on the ground, playing in the mud more than other girls; spending more time around books than people, having people love me exactly for who I am and still being unable to make them stay, being afraid of monsters under my bed (still today), getting to the end of a movie or a book with a transcendental discovery about myself or the world I live in, feeling awfully sorry for dogs abandoned on the streets (more than for homeless people), always believing in love and kindness, crying in the shower, in bed, in the bus on my way somewhere caring nothing about people's thoughts, enjoying music and singers not many people know of, not crying in weepy movies, never watching Titanic, questioning happy endings. 

I know we come to this world alone. 

I feel terribly disconnected. I feel I don't belong. I'm surrounded by people who love me and I'm thankful for each of them. But I don't think they know me. I don't let many people get close to me, I mean, to the point of touching the abstract me, the essence of who I am. I pull people away when they get too close. I'm afraid of getting hurt, so I hurt people before they hurt me. I stop looking for them. I stop talking to them. I stop thinking about them. Who could love me after all that? 

I actually understand why I'm alone. I'm totally responsible for it and it doesn't bother me most of the time. It is the freedom some people talk about. 

Sometimes I think I should have acted like the regular girls I know. I should have settled down with a sweetheart of mine and had the babies I so want to. But then I wonder if would have been happy. I doubt it. I'm so inconstant. Because of the mess I am, I never make plans. Never. I don't even try to see far in the future. But I have this image of a woman I saw in a documentary once, about Italy and the increasing number of elderly people there. This woman was old and weak, she had a wrinkled, tired face, and she cried her eyes out while talking to the reporter. She was telling him she never got married or had children, and she was an only child herself. She said she was really sad to imagine that she was getting close to death and after she died, her family would no longer exist. All the people in her family were dead, she was the last living member in a lineage. She sat there and cried her heart out. I never forgot that scene, it was so long ago. She might have passed away already. 



 (This is from an e-mail exchange with a friend. I share it in the loving memory of Lonesome George. Each of us is one of a kind.)

Thursday, June 21, 2012

#547

(image by Lina)

Nas pequenas horas
antes de entregar-te
ao sono
saiba quem são os teus.

Te reservam as estrelas
na varanda
e os maiores sorrisos.

Incluiram-te sem aviso
nos melhores sonhos
e planos.

Nas pequenas horas
saiba quem você é
e não te esqueças disso.

Canta tua verdade
aos vagalumes, 
eles se escondem

mas virão se souberem
de ainda haver homens
com este teu brilho nos olhos.

In the small hours,
before sleep
takes over you,
search your mind for
your beloved ones.

They organize the stars
in the sky for you
wearing their biggest smiles.

They've included you
in their best dreams
and plans without notice.

In the small hours,
get to know who you are
and don't you ever forget it.

Sing your truth
to the fireflies,
they are hiding

but they'll come
if they find out
about eyes this bright.


(To my cousin Antônio, on the occasion of his birthday)

Wednesday, June 20, 2012

#546

(image by Hengki24)

Rasga a noite 
em pedaços
o trem.

Vem tarde mas
não se aproxima e
grita coisas que
não entendo

- não aprendi
a língua da 
brasa viva.

Porque a casa dorme
e eu não encontro um motivo
ele vem ensurdecedor

e me priva da canção
que o maquinista
solfeja

emudece os grilos
abafa o meu coração
quando finalmente

podia haver alguém
em algum lugar
tentando ouvi-lo.

it 
cuts night open  
this train.

it comes late but 
not close and screams 
things I can't understand 

since I wasn't taught 
the language of 
live coals. 

because the house sleeps
and I can't find a reason
I hear it loud

it deprives me of
the song
the machinist hums

it mutes crickets
and muffles my heart 
right when 

there could be someone 
out there
trying to listen. 

Friday, June 8, 2012

#544

(Image by Julie de Waroquier)

Afastam-se 
as tuas primeiras palavras.
Afasto-me.


E de longe
já não parecem
amor.


De longe são só
linhas tortas
que não posso ler


- nem com os olhos apertados.


They stand back
your first words.
I move apart.

And from afar
they don't look
like love anymore.

From afar they're just
crooked lines
I cannot read

- not even squinting.

Wednesday, May 30, 2012

#543

(image by Chloe)

Nos intervalos
de viver
escrevo histórias
que não seremos


povoadas com 
intenções de azul
e lírios


penduramos desejos 
nos galhos mais altos
dos baobás


você, quase real,
segura o meu 
coração.


At the intervals
of living
I write stories
we won't be

inhabited by
intentions of
lillies and blue

we hang dreams
to the highest branches
of baobabs

a nearly real you
holds my heart.


Sunday, May 27, 2012

#542

(image by Kenia Cris)


eu não imaginava você
não te vi se aproximar
colocou teu medo 
ao lado do meu 
e me tirou do lugar


e porque você veio
estou tentando acertar.

I never imagined you
I didn't see you approach
You put your fear
next to mine and
suggested we went
someplace else

it's because you came
I'm trying to make things right.

Thursday, May 24, 2012

#541

(Photo from Luís Claudio Ferreira's personal archive)

Não sei possível
escolher entre 
tocar o céu ou

deitar na grama.
Subo a montanha,
misturo-me 

às nuvens.
De olhos fechados
desejo ser chuva.


I don't think it possible
to choose between
touching the sky
or lying down on the grass.

I go up the mountain
and mix with 
the clouds

With my eyes closed
I wish to be
rain.

(To Luís Cláudio)

Friday, April 20, 2012

#540


(image by theKika)

Houve um tempo
em que precisávamos
de apenas cem passos
para tocar um ao outro:
teus braços, extensão 
do meu corpo.
Teu coração batendo
no meu peito.
O universo na calçada
na frente de casa.

Até você abrir caminho
entre as estrelas
e viajar lado a lado
com cometas.

Agora 
todo dia alguém descobre
uma nova galáxia,
um exoplaneta:
as distâncias 
ficam cada vez maiores,
envelheço à janela
esperando que você volte.


It once took us 
only one hundred 
steps to touch 
each other:
your arm
an extension 
of my body,
your heart
beat in my chest.
The universe chalked
on the sidewalk
at the front door.

Then you opened roads
among stars to 
run the outer space
side by side with 
comets.

Now everyday 
someone discovers
a new galaxy,
an exoplanet.
We grow more
and more apart,
I grow old  looking
out the window.

(I miss the time when the things I loved were all close.) 

Saturday, April 7, 2012

#539

(image by Marleen B.)

Você precisa ler 
sob as palavras.


Há coisas lá que se 
alimentam da esperança 
de que você as descubra.


Um homem que sobe
e desce escadas 
não é só um homem.


Uma garota que
arranca as asas
das joaninhas,


Um garoto que vai de
um lado a outro do quintal
em vinte e três segundos.


Você precisa ler 
além das palavras.

You have to read
under the words.

There are things down there
which are fed on the hope
you discover them.

A man that goes up
and down the stairs
is not just a man.

A girl who pulls off
ladybugs' wings

A boy who can cross
his backyard in
twenty-three seconds.

You have to read
beyond the words.


---


Estou bastante atarefada tentando cumprir a agenda do NaPoWriMo e do Poetic Asides esse ano, por isso o 'sumiço'. Você pode ler o que ando produzindo para os desafios (em inglês) no meu outro blog: The Sky Clears.


It's National Poetry Writing Month and I've been busy trying to stick to the challenge this year. You can read my answer to NaPoWriMo and Poetic Asides over at my 'spring house': The Sky Clears.

Thursday, March 29, 2012

#538


(image by Kenia Cris)


Não se pergunta às lagartas
se gostariam de
um destino sem asas,
porque lhes cabe
um propósito maior
do que suas vontades.

Há que compreender-lhes
na mudança
as lágrimas e silêncios,

mas não se ouve histórias de
borboletas arrependidas
de abraçar caminhos de vento.


You don't ask a caterpillar
if she would rather have
no wings,
because her fate
is tied to a purpose
higher than her will.

You must undestand
her tears and silence
when faced with change,

though no one hears stories
of butterflies who regretted
embracing life in the wind.


(To my student Maíra Gaio, who's grown to greater heights. It's never easy to abandon the cocoon.)

Sunday, March 25, 2012

#537

(image by Ben Vyle)

Construo estradas 
feitas de partidas

e gasto todos os meus desejos
em bolinhas de gude

quer os dias amanheçam com 
borboletas ou demônios berrantes. 


I build roads
out of departures

and spend all my wishes
in marbles

whether days come with
butterflies or screaming demons.

Sunday, March 18, 2012

#536


(image by Shanyn Silinski)

Caminhamos para longe
por estradas diferentes -
começo a esquecer o teu rosto.


Vez ou outra uma lembrança 
e um sorriso de outra época
me fazem desejar que tivéssemos 
pontos de fuga


- tantas 
as coisas em que 
não pensamos antes.


Where we go is far,
we grow apart -
I start to forget your face.

When a memory of old days
brings me forth to a laughter of spring,
I wish we had vanishing points.

So many the things we
could have thought of
beforehand.



(Posted to the Real Toads Sunday Challenge

Thursday, March 15, 2012

#535

(image by Rebecca Michelle)


Conto sílabas
que não chegarão a tankas
- esse coração não segue regras.
Eu me derramo sobre o papel,
a alma exposta na mancha.

I count syllables
that won’t make it to tankas
- this heart can’t follow
                                                 rules.
I flow over the paper,
my soul exposed in the
                                                 blot.


(This was the best I could do for the Tanka Challenge at the Read Toads)

Friday, March 9, 2012

#534

(image by Joshua Tagicakibau)


Essa garota aqui
gostaria de escapar de sua própria cabeça
num balão de ar quente.


Gostaria de ser amiga 
de um homem em cujo coração
coubessem o universo e o seu sorriso.


Ela seria a dona de nuvens fofas,
um pote de ar rarefeito
e os olhos mais felizes.


Sonhos assim rapidamente são destruídos.


This girl wishes
she could escape her mind
in a hot air balloon

she wishes she were friends
with a man whose heart could
fit the universe and her smile.

She would own the fluffy clouds,
a pot of thin air
and the happiest eyes.

It's so suddenly such dreams are finished.

Tuesday, February 28, 2012

#532


(Image by Brandon Laney)

Espero pelo céu de março
e suas estrelas
conhecidas por tantos nomes
quantos os amores divididos.

Se conecto os pontos
indo de Vênus ao cair da noite
até Ursa menor,
tenho uma ponte até você.


I wait for March's nightsky
and its stars that
go under as many names
as there are lovers apart

If I connect the dots
starting on Venus
and moving on
to Ursa Minor,

I draw a bridge to you.



Tuesday, February 21, 2012

Cloud

(image by Simona)

Olhar o céu e 
ver tantas estrelas
que não cabem nos olhos.


Vi o teu rosto
numa nuvem 
passando rápido 
no escuro.


E menti 
deitada no quintal
dizendo que voltaria.


Apagou metade das luzes -
a mentira.
A nuvem.

To look at the sky
and find more stars
than your eyes can
hold.

I wanted to tell you
I saw your face in
a cloud passing fast
in the dark.

Lying in the yard
I lied to myself
saying you'd be back.

It erased half the starry sky -
the lie.
That cloud.




Wednesday, February 15, 2012

#531



Sim,
eu sinto falta
das perguntas no meio da noite
e dos beijos soprados
direto para o meu coração
enterrado à sombra 
da árvore favorita
no nosso jardim imaginado.

Yes,
I've been missing you
asking questions into the night
and blowing kisses that come
right into my heart
buried under the favorite tree
in our imagined garden.

Saturday, January 28, 2012

#530

(image by Marta Syrko)


Você me apareceu num sonho noite passada,
rosto antigo,
voz cansada,
disse:
treze anos podem mudar um homem, Kenia.


Sempre pensei que 
quando alguém quer muito uma coisa
por mil anos ou treze, 
o universo poder surpreendê-lo 
com uma estrela cadente.


Sobe o pano - 
temos oitenta anos,
envelhecemos juntos na varanda,
você tem aquele brilho nos olhos, 
eu tenho bordados e cantigas de roda,
nós temos uma história para os nossos netos.


Treze anos podem mudar um homem, Alper,
bem como sessenta segundos.


Quantas escolhas cabem num minuto?
Quem pode separar as certas 
das erradas?


You came to me in a dream last night
an ancient face
and a weary tone
you said:
thirteen years can change a man, Kenia.

I've always thought if anyone wanted
the very same thing
for a thousand or thirteen years
the universe could surprise him
with a shooting star.

Curtain goes up -
we're eighty,
we've grown older together in the porch,
you have that spark in your eyes,
I have my needlework and nursery rhymes
we have a story to tell our grandchildren.

Yes, thirteen years can change a man, Alper,
and so can sixty seconds.


How many choices are there within a minute?
Who can tell the good from the bad ones?


Wednesday, January 18, 2012

#529


(image by Jessica)


Era uma casa sem histórias na hora de dormir,
mas cheirava a alecrim
e tinha uma mãe 
que cantava na cozinha
entre os legumes
pensando em formas engenhosas
de nos fazer comê-los.

It was a house with no bedtime stories,
but it smelled like rosemary
and there was a mother 
dressed in love and an apron

singing in the kitchen
among vegetables,

trying to come up with artful plans
to make us eat them.

Tuesday, January 17, 2012

#528

(Image by Léa)


Agora eu me lembro
do que queria ser
quando ainda era 
uma criança. 


Procurei por toda parte
por um fio de cabelo,
uma pegada,
uma gota de sangue:


Então encontrei você.


Alguns dias são bons,
não temos que nos esconder
em espelhos,
ou tocas de coelhos,
ou debaixo de pedras.


Alguns dias são cinzentos.
Derramo o café,
não consigo caminhar entre as nuvens.


Não é fácil viver uma vida
sem saber dos teus olhos.




Now
I remember
what I wanted to be
when I was a child.

I searched everywhere
for a strand of hair,
a footprint,
a drop of blood:

then I found you.

Some days are beautiful,
we don't have to hide in mirrors,
or rabbit holes,
or under stones.

Some days are gray.
I spill my coffee
and fail to
walk among the clouds.

It's not easy to go through a lifetime unaware of your eyes.



Monday, January 16, 2012

#527


(image by Muratcan Karagöz)


Quantos homens um homem é?
Quantos rostos sobre o seu rosto?
Quantas vidas sobre o seu torso?

How many men is a man?
How many faces on his face?
How many lives on his bones?

Saturday, January 14, 2012

#526

(image by Gayecim)


Troco horas de sono por
uma memória de você
descendo a Aslantepe cad
no outono antes de ver
os navios cruzando o Bósforo
- a peça que faltava num quebra-cabeça
há muito perdido,
eu a encontrei num envelope amarelado.


Você vê o mundo como um homem
pronto para construir um barco,
ou um destino,
mas Godot nunca vem.


Me pergunto se as ruas em Malatya
mudaram muito desde o meu último sonho:
éramos jovens e espirituosos
poderíamos ter ido a qualquer parte,
fizemos escolhas.


I trade sleeping hours for a memory of you
walking down Aslantepe cad in the fall,
before watching ships crossing the Bosphorus
- the missing piece in an old puzzle
I’ve thought lost,
I find it inside a yellowish envelope.

You stand as a man ready to build a boat
and a destiny,
but Godot never comes.

I wonder whether the streets in Malatya
changed since I last dreamed of them:
we were young and enthusiastic,
we could have gone anywhere,
we made our choices.


(guys, sorry for word verification but I was having serious trouble with spam)

Friday, January 6, 2012

#525



(image by Lucy Jee)

Um moço perto da janela
com uma xícara de café,
bebendo a vida lá fora 
em pequenos goles.


Devo ter dito antes -
que gostaria que fóssemos alguma coisa -
quase um sussurro, para mim mesma.
Duvido que tenha ouvido.


Creio que foi num sonho,
ele me viu olhando outro dia
e sorriu o mais gentil dos sorrisos,
o bem e o mal jogavam xadrez dentro dele.
(Dentro de mim jogam cartas.)


Num desses dias de sorte
direi a ele como me sinto:
Bem vindo ao meu coração
eu sei que está uma bagunça
mas eu não costumo trazer muita gente aqui.


Ele saberá que não minto.



A guy sitting near the window
with a cup of coffee,
sipping life outside occasionally

I may have said it before -
that I wished we could be something -
very quietly, to myself.

I’m not sure he listened.

I think it was in a dream,
he caught me looking the other day
and smiled the nicest of all smiles,

good and evil played chess inside him.
(They prefer cards when it's inside me.)

One of these lucky days
I’ll tell him how I feel:
Welcome to my heart, I know, it’s a mess,
but I don’t bring many people here.

He’ll know I'm no liar.


--
Kenia Cris

Tuesday, January 3, 2012

#524

(image by Julian Raßmann )


Há sempre uma tempestade 
dentro de mim,
com raios e trovões 
e água por todos os lados,
mas é no silêncio 
que eu perco o que 
realmente importa.


There is always a storm going on inside me.
There is thunder and lightning and flood,
but it is in silence I lose what really matters.

---
Kenia Cris